Nos dias distantes, quando cada dia era mais longo
O medo caiu sobre mim e o medo foi forte
Antes que eu tivesse aprendido a recompensa da canção
Nos dias escuros tremi (sabia!) de sorte
Os perigos, perplexidade - o que posso encontrar?
O arco-íris no seu céu de sonho
E na noite, muitas estrelas a fascinar
Coisas escuras inalteradas na luz de dia
Como se de noite de luar fosse
Mar de estrelas como um lago onde amei na chuva doce
Um dia lá vi um pássaro, um tordo negro elegante
Sabia onde ele andou, tal como ele sabia de cor
Silencioso, ele foi, e ainda pareceu cantar
Canções de crianças e Primaveras de amor
Era um pássaro das águas doces que eu conhecia
Foi profundo e doce como uma canção
Que veio da névoa da manhã tardia
Não posso imaginar - a que distância, ele voou em vão
Pois sei que voltará às minhas águas doces
Numa tarde de Verão
Foto: Notas soltas... RAPHAEL o pensativo (olhares.aeiou.pt)
Não posso ler a poesia que nada naquele mar além das palavras
Sinto-me sem razão de ser poeta (uma espécie de inaptidão)
De não conseguir cavar bem fundo na raiz da poesia
De não ferir com as farpas da poesia o coração
De não ser poeta ao menos por um simples dia
Perecem longínquas as palavras que não consigo ainda escrever
Que não consigo sequer ainda perceber
São palavras que picam e arrefecem nas minhas mãos
Como um ouriço apertado para morrer
E por isso são palavras difíceis de dizer e de escrever
De sair das minhas mãos e da minha ideia
De escorrer nas minhas folhas brancas
Como pequenos grãos de areia
São antes palavras em brasa escaldantes
Impossíveis de usar ainda de forma correcta
Para que possam ser lidas e sentidas
Nas legendas em verso do sonho de ser um dia: poeta
Foto: Palete de cores - Sandra Silva (olhares.aeiou.pt)
Vida vã de perguntas recorrentes
De trens infinitos de infiel e louco amor
De paixões de vida perfeitamente insolventes
Serás para mim sempre a repreensão
Dos meus olhos cegos que vaidosamente almejam a luz
Nunca serei teu nobre escanção
Dos anos vazios e inúteis do resto
Com o resto em mim entrelaçado
Vida, junto ti nobremente protesto
Pelo sorteio com que me atribuíste
O meu pobre fado malfadado
E pela distracção com que de mim
Estranhamente te abstraíste
Sou nas tuas mãos apenas um manequim
Fazes de mim tua derrota
Tua vã glória de mandar
Teu soldado de terracota
O teu sorteio não mereço
Mas solenemente te obedeço
Foto: Under my umbrella... Daniela Vasques (olhares.aeiou.pt)
Como essa menina bonita que dançando na praia
Ensaia nos seus passos a dança dos meus olhos
Como a menina dos seus olhos cor de papaia
Que no seu cantinho de areia mandam sorrisos aos molhos
Como a alegria com que me contagia
Com a tranquilidade com que sorri ao piropo
Fica-lhe bem esse ar de respeito em jeito de catraia
Com a mesma energia com que saltitas fora do teu mar
Assim também ficas com toda a praia a teus pés
Olhar-te brincar assim feliz faz-me acriançar
E pensar como seria tão bom
Poder contigo dançar
Nas praias das tuas marés
Foto: Suavidade Sensual - Brunolopa (olhares.aeiou.pt)
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