Domingo, 29 de Junho de 2008
Há silêncio, excepto no poema
Pairam rimas na minha mente
Posso gritar a toda a gente
Mas começa novamente
Posso saltar das palavras para as linhas
Ou das linhas para as ideias
E durante algum tempo monto a linha
Como monto a minha safra
Como calço as minhas meias
E nasce um poema que quebra a cor
Colorida da palavra
Bits de som e não muita forma
E repentinamente estou em lágrimas
Por ter quebrado a norma
Tenho de olhar para longe e esperar
Finalmente há silêncio
Silêncio voluptuoso
Excepto no poema vagaroso
Foto: Silêncio em S. Jacinto - Paulo Coelho (olhares.aeiou.pt)
Quinta-feira, 26 de Junho de 2008
Para aqui sentado na paragemOlhos à chuva deles mesmosOlhos nas vigias das ruas e vielasInventando a miragem dos teusReflectida na janela dos meusTempestade à espreita na cidadeCabeças no ar, olhos no chãoUma rua gasta da idadeUma pedra que salta do caminhoUma pedra na rua da cidadeE alguém que caminha sozinhoLágrimas que correm para o rioUm rio de água vazioUm barco em seco sem ventoUm grito feito lamentoUm homem de água sedentoE um rio de água vazioUma mulher a tremer de frioE uma capa a voar ao ventoUm homem que olha o adventoDe um rio de água vazioUma criança que choras os paisPais sem filhos nem rioO barco sem porto nem caisE um rio de água vazioUm pintor que pinta sem quadroUm quadro sem pintor ao ventoUm pintor que pinta ao frioUm rio da água vazioUm amor que esvoaça o equador das ideiasO sangue que salta das artériasUm corpo que encolhe com o frioNum rio de água vazio
Quarta-feira, 25 de Junho de 2008
Este é…Um poema que é vinho dum vinho que foi mostoUm vinho que é casta num cálice de vidroUm vidro que carrega o néctar do rostoSangue e cor da vida - o simples sentidoEsta é…Uma mão que acompanha teu corpo afagadoO teu gosto simples na boca guardadoO teu espírito dos deuses sempre presenteQuando deslizas e o meu corpo te senteEu…Fico embebido na tua bebida de prazerBranco, sangue, verde ou maduro da vidaÉs vinho, água benta de vida e prazerÉs simplesmente vinho de uma vida por beber
Terça-feira, 24 de Junho de 2008
Há um suspiro de palavras drenadas da amargura da tua boca
Uma espécie de magia soletrada no linhoUma criação de palavras simples
Uma magia que mostra que um amor não pode curar-se assim
Uma varinha de condão que perturba a pacatez do ninho
Seria bom deitarmo-nos a adivinharA quanta magia pode sobreviver o mundo
E quanto a magia pode tocar tão fundoSeria muito mau destruir o sonho de uma menina
Fazendo desaparecer a praia e a areiaFazer desaparecer da rua a esquina
Fazer um ar duro e sérioE estragar o mistérioSeria muito mauDeixar voar a pomba do chapéu do mágicoGritar ou esperar acontecer
Virar a carta certa no momento erradoOu esperar pela magia desesperado
Ou seria mau pensarQue partir a varinha de condãoPodia ser mágica solução
Segunda-feira, 23 de Junho de 2008

Dispo-me quando escrevo
As palavras que são minha roupa de disfarce
Verdade feita poema
Na linha ténue do ecossistema
Dispo-me porque sei que transpiro
Porque sei que sonho
Visto-me porque sei que te inspiro
No teu poema medronho
Neste equilíbrio de corpo e mente nus
Faço a correr a tua praia de encantos
Visto e dispo a roupagem na duna
Oiço e leio o que escrevo
Vãs palavras, má fortuna
Sábado, 21 de Junho de 2008
Talvez não…
Talvez nunca tenha estado sozinho
E haja nalgum lugar um coração que sangra como o meu
Uma alma que sente o mesmo que eu
Olhos como os meus
Que vertem água de mansinho
Talvez sim…
Talvez haja por aí alguém como eu
Com o mesmo desejo de caminhar
Com o passo mais largo que o mundo
Que queira gritar as palavras que não são ouvidas
Que rasgue o silêncio profundo
Talvez…
Seja só uma passagem de margem
Uma solidão que não quer estar sozinha
Que queira gritar ao vento
Os gritos ensurdecidos do eco
Que quebre as conchas do mar
E goze o sorriso ao caminhar
Foto: Quorum Ballet*Daniel Cardoso - Nuno Abreu (olhares.aeiou.pt)