Terça-feira, 30 de Setembro de 2008

Foi preciso espreitar a janela
E descobrir que tinhas asas
Que eras cidade de castelos e ameias
Que eras morada da minha cela
E que dentro do teu lago germinavam peixes
E nadavam plantas
E acalmava o teu silêncio
E estremeciam as folhas do meu poema
Escritas a medo em papel corredio
Descobri que tinhas sombras nos olhos
Um olhar fugidio
Uma saia de folhos
Mas um corpo baldio
Descobri que eram verdes os teus cabelos
Ou seria ilusão dos meus
De tanto tempo sem vê-los?
Descobri que eram macias as tuas colinas
Quieto o teu rio
Margens estreitas
Leito selvagem de lágrimas salinas
Descobri que o meu mapa era velho
Estava ao contrário, do avesso
De pernas para o ar
Gasto de tanto sangue vermelho
De virar e virar
De tanta lábia e conversa
Descobri que afinal eras um peixe verde
Deitado num tapete persa
Descobri que podes gostar de ti como eu
E vice-versa
Domingo, 28 de Setembro de 2008

Reza girassol
Pela alma do Sol
E viram e reviram teus olhos
E olham para os lados e para cima
Com olhos de malmequer gigante
E corpo fino, elegante
Que do amado te aproxima
Deu-te Clitia a vida e te segurou ao chão
E sobre esse corpo giras
Disfarças, magro, a solidão
E sobre ele pairas
O olhar e o corpo torcido
E à noite no teu gemido
Cai-te a cabeça a chorar
De mais um dia esvaído
Sexta-feira, 26 de Setembro de 2008

Se houvesse nos teus olhos um pouco mais de Sol, um pouco de chuva, um pouco mais de vinho, um pouco mais do açúcar da uva.
Podia beber-te e saborear-te.
Se não fosse só ilusão a tatuagem na sombra da tua mão, o delírio em que despertas e corres para mim na bruma,
Podia mergulhar, nu, na tua espuma.
Se não tivesse falhado todos os semáforos verdes da estrada, e desbaratado todos os amarelos,
Seria agora livre.
Se tivesse partido as algemas e roído as grades, e olhado os precipícios com sangue de herói,
Seria agora um beijo a voar.
Se tivesse acabado tudo o que comecei, beijado o que não beijei, se tivesse visto o Sol mais cedo,
Seria agora um desvendado segredo.
Quinta-feira, 25 de Setembro de 2008
Quarta-feira, 24 de Setembro de 2008

Faz tudo como quiseres
Mas,...
Desce os degraus da fantasia
Desliza vão acima pelo varão da agonia
Desperta a loucura
Desbrava a carnadura
E,...
Ensaia comigo os passos da magia
É que essa vida de atadura
De maldita bezedura
De novas e chatas preces
Está a deixar-me louco
E,...
Até o dia me sabe a pouco
Sexta-feira, 19 de Setembro de 2008

De todos os gritos que oiço
Aflitos são os teus
Que abafam os meus
Pois o silêncio de quem ouve
É apenas incompleto
E o silêncio de quem grita
Não se declara por decreto
Foto: Alma incendiada... - helena margarida pires de sousa (olhares.eiou.pt)
Quarta-feira, 17 de Setembro de 2008

Gelam as almas e os corpos
Cansa-se a vida dos desenganos
Viver apenas de esperança
Tela dos teus segredos
Ganhar a jorna do suor pingado
Em prosas e trabalhos profanos
Viver a tua lembrança
Esquecer os meus degredos
Nunca dês o meu nome a nada
Nem a mim chames maior
Respira-me na tua alvorada
À luz de um Sol menor
E sem pensares muito
De tudo o que não te fiz
Atira o sonho ao vento
Mas fecha as mãos no momento
Foto: Unopen - Diego Freitas (olhares.aeiou.pt)
Segunda-feira, 15 de Setembro de 2008

Se fosse apenas mais simples
Viajar pelo campo das tuas flores
E inconscientemente esmagar as minhas dores
Não estar amarrado à loucura dos sonhos
Mesmo que eles mudem em cada noite, em cada colina
Mesmo que os erros sejam o meu açoite
E seja cego n(a) escuridão da noite
Mesmo que seja noite de tempestade
E os relâmpagos sinais de vitória
Mesmo que escureça antes do fim da nossa história
Seja o amor amargo
Que eles nos abandone frios no breu
Que não compense a viagem
De mim para ti
Estimo os intervalos curtos dos trovões de Agosto
Lava a chuva o teu e o meu rosto
Lava o sono e deixa os sonhos
Mesmo que os erros sejam o meu açoite
E seja (eu) n(a) escuridão da noite
Mas acordado e desperto
À luz do teu excerto