Quarta-feira, 31 de Dezembro de 2008

Preciso do teu desenho, da tua projecção
Do teu perfil, das horas dos teus dias
Preciso do teu cheiro a chá de menta
Das rosas dos teus segundos da tua fantasia
Preciso que pintes os olhos de magenta
A primeira cor do universo
Que pintes dias, horas e segundos
E te deixes levar na poesia deste verso
Preciso que passes para te perder
Ou apenas para ter saudades tuas
Preciso que estejas ausente para te ver
Preciso que chegues para te esquecer
Foto: On the Becak - Wawan Setiawan (Oneexposure)
Domingo, 28 de Dezembro de 2008
O fim de um ano
É assim uma coisa esquisita
Porque na verdade não acaba nada
E continua tudo outra vez e outra vez
Muda o dia e a semana
Justifica um trabalho sem fim
Um espaço fútil
Um amor inútil
Uma poesia não tem anos
Apenas passa por eles
Não quer nada de presente
Mas sim de futuro
Escolhe um fruto maduro
Por isso é mais difícil escolher um ano
Do que uma poesia
Porque…
Um ano acaba e outro começa
Poeticamente no outro dia
Sábado, 27 de Dezembro de 2008
Quinta-feira, 25 de Dezembro de 2008

Estará por aí à mão o banco de jardim
Onde está?
Que não aparece nas imagens
Onde está quando preciso?
Descansar das minhas viagens
Podes ao menos mostrar-me
A sombra que faz a árvore
Ou o rio dessas paisagens
Há pedras no caminho?
Há espinhos nas roseiras?
Magoarei os pés se caminhar sózinho?
Permite esse quintal brincadeiras?
Sabes disso ou apenas esperas descanso?
E que o sentido oculto das coisas
Te dê esse sono manso?
Mudas as paredes e os quadros?
Mudas apenas o corpo?
Deixas ficar os braços e os ouvidos
Ansiosos por um piropo?
Muda os quadros e as paredes
Muda o corpo e a alma
Muda o jardim e a roseira
Muda o tudo e o nada
Esse capim e esse aroma
Mas deixa o banco e a floreira
Deixa a árvore e a sombra

Tenho feito prazerosas viagens aos mares da blogosfera portuguesa. Velejando em praias repletas de diários, coleções de textos próprios e citações, avistei o farol que Raul Alberto Cordeiro construiu para avisar aos navegantes virtuais que a terra de Alberto Caeiro continua em efervescência literária.
E lá, no Alentejo, está Raul, um desses tipos dos quais se pode dizer, sem conhecê-lo, que é uma figura ímpar. No seu "A vida das Palavras" estão servidas iguarias para paladares exigentes. Os pratos que oferece vão de poemas a artigos, passando por reflexões existenciais e citações. Dessa mesa farta, recolhi o trecho abaixo, preparado com uma leveza de tempero que lembra Fernando Pessoa (não o dos heterônimos, mas ele próprio):
Será que o meu amor é como um vazio?
Onde pousam pássaros de todas as cores
Mas só ficam os que fazem ninho
É certo que...
De vez em quando provocam dores
Com suas bicadas devagarinho?
(Corvos)
Em tempo: Raul é bem humorado e mantém outro blog para o que poderíamos chamar de notícias do inusitado. "As notícias mais parvas do dia" reproduz fotos de um peculiaríssimo calendário em que um homem de uns 200 kg faz poses fofas para a câmera...
Do outro lado do Atlântico, onde gritámos junto ao Ipiranga, chegou a mais inusitada e bela prenda de Natal - um elogio, tamanho do mundo (pelo menos do meu) à Vida das Palavras.
Os leitores deste Blog são já quase maioritariamente falantes de português de samba, ritmado na cadência e belo nas palavras.
Aos meus amigos e amigas do português do samba do Brasil, do português creoulo de Angola e ouros cantos do Mundo a minha prenda de Natal são todos vós.
No Blog VIVER E CONTAR, Márcio Almeida Júnior acabou por dar a este Blog a melhor prenda de Natal - a satisfação dos seus leitores.
Fez um elogio tamanho do mundo, não digo exagerado porque também sou algo vaidoso com o que faço.
Terça-feira, 23 de Dezembro de 2008

Será que o meu amor é como um vazio?
Onde pousam pássaros de todas as cores
Mas só ficam os que fazem ninho
É certo que...
De vez em quando provocam dores
Com suas bicadas devagarinho?
Sexta-feira, 19 de Dezembro de 2008