Sexta-feira, 27 de Fevereiro de 2009

Lembra-me este Sol de Primavera
Estradas de caminho do sul ao norte
Caminhos de pedra sem destino
O nevoeiro pardo, fino
Um espaço falso que ocupa o que sou
Uma prenda que enfeita o mar da incerteza
Uma luz que mostra o que tenho
O escuro que oculta o que desdenho
É mais que um caminho
É um destino
O que se esconde no teu sorriso
É mais que tudo o que pensas
Ser assim louco e gigante
Ao mesmo tempo
Passar de povo a infante
Terça-feira, 24 de Fevereiro de 2009
Diria O’neill que há palavras que nos beijam
Digo eu que me custa que assim sejam
Leves brisas que passam e não oiço
Planícies e tempestades
Velhices e idades de pasto curto
Digo eu que perdes por ser assim
Calado e mudo
Ouvidos moucos a quem gosta de ti
A quem te vê sem te ouvir
A quem te ouve sem te ver
A quem te olha sem te falar
A quem te quer sem te ter
Digo eu que não sou sábio
De ideias nem de razões
Que sofrem muito os corações
A mente, as unhas e o lábio
É mentira, não acredito
Que possas fazer do vento uma brisa
Que te seja indiferente o olhar
Que te seja presente a ausência
E desconhecido o chegar
Sexta-feira, 20 de Fevereiro de 2009

Será surdo quem fala em silêncio?
Na confusão dos sons do mundo
Cala-se a voz bem fundo
Falarão as coisas que vemos ao fundo?
Ou são apenas murmúrios do mundo
Confessam os olhos e os dedos
A ânsia da voz calada
Vai-se o canto da ave pousada
Na espera avultam os medos
Vale a pena tapar os ouvidos e a boca
E fechar a porta por dentro
A tristeza não é pouca
Quando te calas com o vento
Domingo, 15 de Fevereiro de 2009

Será que existe algo para além do mundo?
Pode ser bom não pensar em nada
Nem na noite nem na madrugada
Falso será o buraco negro
De nebulosa disfarçada
Infinitos sentidos das coisas
Infinito o sentido do verso
Suave ecoar no universo
Existirá vida para além da vida
Ou será precisa outra vida?
Para viver a vida perdida
E para amar a vida pedida
Será apenas metafísico o amor?
Volátil, mais veloz que a dor
Queria ir na tua velocidade
Deixar que o universo parasse a contratempo
E em pausa abraçar o momento
De poder amar o tempo
Foto: Infinito Céu - Gustavo Urias (olhares.aeiou.pt)
Quinta-feira, 12 de Fevereiro de 2009

Soou uma sonora gargalhada
De riso vindo do nada
Sangue calado, chão molhado
De um tiro com arco vindo do nada
E era dia e hora de namorados
De chão e mar salgados
Das lágrimas dos dois lados
Riu-se ele do que não via
Ria-se ela do que não sentia
Riam-se os dois do que não havia
E afinal não havia dia
Nem namorados
E riram os dois
E escolheram os lados
E escolheram os caminhos
De terra, sol e mar
E esperaram por um amor
Calado, por chegar
Terça-feira, 10 de Fevereiro de 2009
Segunda-feira, 9 de Fevereiro de 2009

É apagado o sujeito
Antilírica a atitude
Poético o objecto
Fantasia a virtude
Astronauta das sensações
Pagão nas crenças
Teórico dos sentimentos
Prático das diferenças
Sente com os olhos e os ouvidos
Recusa o pensamento em vão
Poeta das sensações
Tal e qual elas são
Eterna novidade na ponta da pena
Discurso simples, oral
Nostálgico e ardente
Poeta ao natural
Sexta-feira, 6 de Fevereiro de 2009

É a tua árvore alheia à minha sombra
Nem sei quantas sombras fazes
Quando abres os braços
E me enleias e desfazes
Não é original nem pecado
Roubar ao Sol um pedaço
E ganhar raízes e espaço
Grande e leve é o vento que passa
E pesado o tempo que escassa
É a tua árvore alheia à minha sombra
Indiferente quando passo
Senhora e rainha solitária
De um tempo e de um espaço
Foto: Raul Cordeiro