Terça-feira, 12 de Maio de 2009
Domingo, 10 de Maio de 2009


Cantamos os sonhos mas nem sempre podemos sonhar. Em breve poderei sonhar e regressar a África. São de lá os fins de tarde que preenchem o meu imaginário. É de lá o cheiro a peixe seco com pirão comido á mão e às escondidas nas traseiras de casa. É de lá a nostalgia que me assalta tantas vezes. São de lá as primeiras quedas de bicicleta. São até de lá as primeiras doenças. Paludismo, vulgo malária, que segundo a minha mão poderia ter deixado os leitores deste texto sem interlocutor. Dizem até que é de lá a cor da pele(!). Foi de lá que veio o sotaque indígena com que os meus tios tanto gozavam em 1975. Foi lá que ficou uma parte das minhas memórias reconstruídas após tantos anos e tantas histórias recontadas. É lá que volto num sonho. Quero que belisquem à chegada. Mas só depois de chorar (continua)
Sábado, 9 de Maio de 2009

Mais vale ficar calado no instante
Completar os cromos de uma vida
Não sou frio ou distante
Apenas trato a poesia de forma desmedida
Sou irmão da distância
Das estradas escuras e claras
Salto paredes e muros
Canto palavras tão raras
Ergue-se em mim o edifico das palavras
Pedras juntas por argamassa
Não sei se fico
Ou se aproveito a boleia do dia que passa
Sei, isso sim, sei que faço poesia
Ritmo as minhas asas
Pelas palavras que ergo
De palavras mudas e escravas
Terça-feira, 5 de Maio de 2009

No lago das minhas lágrimas
Há-de navegar um barquinho de papel
Mensageiro de mim
Um barquinho colorido amarelo pastel
Nele há-de flutuar a minha cidade
E carregar no papel das velas
O nome da felicidade
Ficarei a vê-lo do cais do passeio
Cruzar lento o fundo da rua
E parar espantado e molhado
Nunca lhe ensinaram aquele caminho
Nem o Sol nem as estrelas
Nem a lua…
Nem como navegar sozinho
Nem a navegar à vista ou à bolina
Nem como lidar com o vento depois da esquina
Foto: Yokohama by night - Raul Cordeiro (olhares.aeiou.pt)
Domingo, 3 de Maio de 2009

É surdo o pastor ao balir do seu rebanho
Manhoso, fugidio, o sobreiro à sua sombra
Renovadas as preces de chuva
Mistério milagre que o Sol assombra
É inconsistente e surdo o noivo às grinaldas
Ou o pombo à águia
Surda de ensurdecer
A papoila a um campo esmeralda
Sou surdo às atoardas
Coloco flores nos canos das espingardas
E rio surdamente
E rio surdamente
É surdo o silêncio da voz de um poeta louco
Que de poeta tem pouco
E ri surdamente a palavra troçada
Ri em surdina na multidão
Em estádio virtual especada
É surdo o meu riso para quem não gosta de mim
É surdo o meu riso
E rio surdamente
Como poeta sou assim
Sexta-feira, 1 de Maio de 2009