Sexta-feira, 25 de Setembro de 2009
A certa altura perguntei-me a mim próprio
Porque é curta a vida e longa a tristeza
Custa cavar o nosso terreno interior
Descobrir a fonte do infinito fulgor
Segunda-feira, 21 de Setembro de 2009

Poderia ser assim como um sopro de gigante
Um sopro que faz mover um carrossel
Se este sopro passasse os mares
E ajudasse a apagar as velas
Num bolo feito de mel
Poderia ser um presente gigante
Em forma de beijo de vento
Se este presente passasse os mares
E ajudasse a manter o sustento
Desse carinho que me ensinares
Quinta-feira, 17 de Setembro de 2009
Porque é que o mundo não é mais pequeno?
Assim poderia cruzar os meus olhos com os teus
E os meus deliciarem-se com os teus
E chorar de não lhes poder tocar
E chorar dos teus não serem meus
Terça-feira, 15 de Setembro de 2009
Era quente a minha ânsia
Desconhecido o desejo
Morna a poesia
Fresco e molhado o beijo
As lágrimas adjectivos
Nocturnas as negações
Segunda-feira, 14 de Setembro de 2009
Era tarde e ele tinha já quarenta anos
Deixara de ser jovem para ser homem
E pasmou na orla das gentes
E viu-a passar depois de não ter vida
Lançou da sua estátua um olhar
E da sua montanha um respirar
Gozava a brisa que lhe dava a alma
De olhar e respirar e deliciar-se com calma
Olhar era quase um pregão silencioso
Um pontapé na vacuidade
Dessa treta que o tempo inventou
A que dão o nome de idade
Quinta-feira, 10 de Setembro de 2009
Quarta-feira, 9 de Setembro de 2009
Durban, África do Sul (Porto de Durban), Junho 2009
Foto: Raul Cordeiro
Guimarães, Agosto 2009
Foto: Raul Cordeiro
Terça-feira, 8 de Setembro de 2009
O meu relógio parou incerto
Na hora do teu silêncio
Tornei-me subitamente algo, uma coisa
Não alguém
Escravo da tua voz
Indigesto personagem
Extraviado, funesto
Entidade irreal sombra da imagem
Estou sempre triste
É difícil ser culto e não ter indulto
Mas oprime-me estar só
E o inverso
Vale-me o poema e a companhia
De um verso
Domingo, 6 de Setembro de 2009

Levaram-me hoje a ver o mar
Vi barcos vadios, parados
E outros vivos apressados
Vi conchas abertas e fechadas
E peixes poetas das madrugadas
Vi água e areias
Pessoas gordas e magras
Cantos e figuras de sereias
Um mundo de imagens sonhadas
Ouviu canções da espuma
E fechei, criança, os olhos à bruma
Vi nas pedras estátuas de arte e sal
Pregadas no chão
Arte de imaginação
Vi figuras de espanto
E chinelos velhos e rotos
Andar vagaroso e lento
De quem o mar sabe a pouco