Quinta-feira, 28 de Janeiro de 2010
A leste do astro está a lua
E a sul dela a sombra tua
Sábado, 23 de Janeiro de 2010
Era dia e alvorada
Tarde, noite ou madrugada
Era a Lua nos teus olhos
De medo alvoraçada
Eram pássaros e ninhos
Tarde, vento, remoínhos
Era a Lua nos teus olhos
Brilhantes, pequenininhos
Eram sóis e gotas de chuva
Tarde que cai na noite feita luva
Era a Lua nos teus olhos
Carmim cor de uva
Eram dias e noites e dias
E manhãs e tardes sombrias
Era a Lua nos teus olhos
Tristezas e mordomias
Eram só semanas e anos
Para séculos de desenganos
Era a Lua nos teus olhos
Com seus respiros ufanos
Era todo o tempo que fosse
Seria teu, tua posse
Era a Lua nos teus olhos
Dos amores os meus restolhos
Quinta-feira, 14 de Janeiro de 2010
Um poeta não se constrói
Nasce consigo quando nasce
No poema o seu climax
E morre quando morre
Ou finge que vive e morre em cada poema
Ou arranja o estratagema de estar em cima
E fintar de calcanhar a rima
Hecatombe frágil
Poema cósmico
Colérico ou cómico
Alegre ou triste
Guerreiro solitário de pena em riste
Constrói-se a si mesmo
Sobre o nada e o tudo
Áspero ou veludo
Careca ou felpudo
É operário auto construtor
Análgésico da dor
Um poema é cirurgião de um acto actuante
Consciente
Delirante
Risonho ou façanhudo
Constrói-se poeta de nada e de tudo
Podemos até ver claro
Que no fim da história
É poeta de tudo
Atleta da memória
Segunda-feira, 11 de Janeiro de 2010

Chamo-lhe poemas, os meus poemas, por mil razões
Não porque sejam boas ou más
Mas porque são razões
E isso basta
Em linhas nobres, escorreitas
Que roubam a castidade a uma folha perfeita
Casta
Chamo-lhe poema porque manda a pena
Que pára no meio ou no fim da linha
Ao jeito da história
Ao ritmo das cantilenas
Mas chamo-lhe poemas
Porque as linhas não vão até ao fim da página
Apenas
Foto: Raul Cordeiro (A sesta, Ponte de Lima, Agosto - 2009)
Sexta-feira, 8 de Janeiro de 2010
Quarta-feira, 6 de Janeiro de 2010
Ir às nuvens e ficar
E ajudar a nuvens pela chuva derrotadas
E assim qual nuvem extensão
Do Sol ou de vidas passadas
Como se fossem nuvens todas as ideias que temos
E ficássemos no sonho
Para evitar do real
O medo medonho
Domingo, 3 de Janeiro de 2010
Vale a pena gritar?
Se a voz não sai do chão
Se gritar não resulta
No deserto da vida
Só vale fugir da multa
De mim e de ti
Encontro o meu bilhete de ida
Numa caravela
De vela caída
Acaba agora essa história
De fitas e glória
Lembra-te de mim
Pensa em mim
Que não sei nadar
Nas minhas lágrimas
Vou agora?
Lutar contra a tempestade
Posso chorar
Posso rir da idade
Mas a minha história
Triste e certa
Acaba contigo nas estrelas
Os dois sentados
Apenas tu desperta
Acaba agora essa história
De fitas e glória
Lembra-te de mim
Pensa em mim
Que não sei nadar
Nas minhas lágrimas