Segunda-feira, 10 de Maio de 2010
Logo desaparece e se evapora no seu rio
Na clareira das suas ilusões
Num raio de luz do luar
Exercita serena o seu cio
Resulta existir e ser mulher
Ver no espelho a imagem
Comer um doce inteiro de colher
E ler um livro da viagem
Sábado, 8 de Maio de 2010
As horas, como todas as coisas mundanas
Têm uma hora em que acabam
Em que fechamos a porta e guardamos a chave
Apagamos a lâmpada
Num gesto suave
E confiamos na sorte que engana
Desisto de qualquer direito
A uma casa que não é minha
Aos vizinhos que não tenho
Da solução da adivinha
Não perguntem o que levo ou deixo
Ou mesmo se me treme o queixo
Não interessa, ora essa
Perguntem apenas se o caminho é largo
Ou estreito
Não me perguntem o que levo na mão
Ou se levo algo
Se vou pela sombra ou pelo sol
Perguntem apenas o que levo no coração
Ou se sigo o canto do rouxinol
Este é um poema sobre tentações. A tentação é um estado sublime entre a sobriedade e a embriaguês.
A tentação está por aí, algures no meio de tudo
Pensei que poderias ser a chave
Que balança hesitante no colo da minha fechadura
Escolhi as tuas balas para ferir a minha armadura
Colhi as tuas balas na minha boca
Ingredientes doces e salgados
Chumbo, cobre, doce de amargura
Decidi ir ao norte numa viagem louca
O pensamento foi o modo mais fácil de ser
De matematicamente entender
O desvario e a loucura
Sou afinal uma semente vazia
Fruto podre da minha ditadura
Sem folha, flor ou fruto
Fiador de sentidos e delírios despidos
Infantil, irresoluto, invisível e inodoro soluto
Não posso ainda perder-me na abundância do dever
Nem brincar com a idade
Ou atropelar o minuto
Isto não é sobriedade?
Fico quieto e mudo deste lado do horizonte
Deste lado do mar de todos os dias
Onde ser enrolam as ondas do mar sem laços
Onde perco os teus abraços
Onde cruzo o silêncio de um mar sem chão
Com a sombra dos braços teus
Que acenam um claro mas cinzento adeus
Uma vela, um barco ao longe, navegar de solidão
Encalhado numa praia onde não chegam as ondas
Desfazem-se fora dos olhos em voltas redondas
Onde verto em câmara lenta desgostos de não te olhar
Dava a vida toda para te ver chegar descalça sobre o mar
A viver deste lado do meu poema
A fazer-me companhia
Na construção do simples morfema
A beberes comigo a palavra fugidia
A desfolhar comigo as páginas do dia
Seres em carne e em paixão
A vida da minha poesia
Quinta-feira, 6 de Maio de 2010
A vida é só uma paragem
Uma pausa no que deve ser
Um lugar de descanso
Um longo caminho
Para a felicidade
Uma doce miragem
Uma doce eternidade
Uma viagem diferente
Com destino a um lugar
Maior do que cremos
E em que cremos piamente
Para alguns a viagem é mais rápida
Para outros mais lenta
E quando a viagem termina
No sonho que se acalenta
Reclamamos uma grande recompensa.
Terça-feira, 4 de Maio de 2010
Tinha asas nas costas
E voava
Trazia para mim
Uma jóia
E as minhas respostas
Chovia para mim
Em gotas cristalinas
Uma chuva miudinha
E uma fada madrinha
Tocava o condão
De me levar
A minha inocência pela mão
E nem toda a inocência do mundo
E nem que olhasse bem fundo
Conseguia enxergar
Que era aquele vento suão
Um vento apenas
Do Verão, vagabundo
Acorda agora
Abre os olhos e vê as asas
Que elas vão-te tocar
Bem abertas e rasas